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Contos-->No Cerrado do Planalto Central... -- 14/09/2002 - 14:43 (JANE DE PAULA CARVALHO SANTOS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
...Laura quis levantar, mas o corpo não obedeceu. O mato seco em seu rosto incomodava mais que a dor generalizada que sentia. Então, tentou gritar, mas era inútil – o local era ermo e não haveria brado possível que alcançasse qualquer ouvido.

Sabia que era dia por que o calor do sol também a afligia – ou seriam as chamas do inferno próximas? Haveria mato seco no inferno? Merda. Nem sabia se estava viva ou morta.

Num esforço fenomenal, conseguiu se virar e ficar de cara para cima; o brilho intenso do sol lhe trouxe a certeza de ainda pertencer ao mundo dos vivos. Grande bosta.

Ciente de que não poderia ficar ali eternamente, uma vez que não tinha morrido mesmo, conseguiu se sentar. Tinha medo de abrir os olhos e constatar o que os nervos já sabiam – o estrago havia sido grande.

Já de olhos abertos, catou a bolsa e os pertences esparramados pelo chão, analisou a hipótese de ter que andar muito até encontrar qualquer indício de civilização e teve vontade de cair de novo... Mas, morrer ali? Sem platéia, sem cenário, nenhuma pluma cor de rosa, sem o pranto escandaloso das amigas? Desencarnar aqui, neste deserto cinza, onde os vermes devorariam suas carnes e algum antropólogo do próximo século classificaria sua ossada como sendo de um aborígine do início do milênio? Nada seria mais desagradável... Seria pior que morrer de AIDS, careca e esquelética numa cama de hospital.

Daí, Laura caminhou e caminhou; de início estava de todo curvada, entregue às dores, pronta a iniciar uma série de lamentações e condenações ao infinito, praguejando sobre essa vida estúpida e suas conseqüências patéticas. Foi quando percebeu que os paetês sobreviventes dos trapos do que ontem à noite era um lindo vestido pink, reluziam horrores e pareciam soltar pequenas faíscas que poderiam incendiar aquela planície toda (gente, os acessórios são mesmo “tudo”!). Ora bolas, se até os paetês furta-cor conseguem brilhar depois de uma pavorosa e notívaga tragédia, o que se poderia esperar, então, da figura altiva, loura, de aura púrpura e coração incandescente que era ela? Pôs a coluna ereta e as mãos flutuando ao longo do dorso alongado. Ergueu a cabeça e sacudiu o “mega-hair” caríssimo, de maneira que as madeixas ficaram soltas ao vento. Os pés tocavam o solo do cerrado com absoluta suavidade - ponta, calcanhar...

E era novamente Laura-Felina quem percorria mais uma passarela ilusória, com destino à sua pseudo-realidade-perfumada das noites quentes do final do inverno no Planalto Central.

Laura e seus lindos paetês furta-cor reluzentes.

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